quarta-feira, 14 de abril de 2021

NEM SEMPRE AS COISAS SÃO NO TEMPO E DO MODO QUE QUEREMOS. E MESMO ASSIM, FICA TUDO BEM.

Ela já tinha ouvido falar de casos como aqueles, de pessoas que ao se verem, sentiam-se logo atraídas uma pela outra. Já tinha escutado também sobre como as pessoas se sentiam quando esse tipo de emoção acontecia. Mas nunca tinha vivenciado em si mesma essa experiência. Até aquele momento.


Estava num quarto de hospital acompanhando seu pai enfermo, e havia mais dois pacientes ali, porque se tratava de uma enfermaria. Era hora da visita e muitos parentes e amigos dos pacientes ali vieram visitá-los. Já estava no fim das visitas quando um que seria a pessoa que ficaria ali de acompanhante de um dos pacientes se encontra no corredor com uma das visitas, se cumprimentam e se despedem. Coisa de segundos.


Ela estava de costas mas ao ouvir aquela voz foi como se, inconscientemente, todo o seu ser o reconhecesse. Ele ainda estava falando quando entrou no quarto e já ia cumprimentar o amigo que estava ali internado quando seus olhos se encontraram. Nossa, foram apenas segundos, porém na hora, algo como uma corrente elétrica foi sentida entre eles. Ela tinha certeza que ele também sentiu porque ele arregalou os olhos quando a viu, mas ele tratou de dirigir-se ao amigo, motivo que o havia levado àquele lugar. 


Não houve constrangimento, mas um reconhecimento do quanto aquilo foi estranho e, ao mesmo tempo, compreensivo. Ele a olhava descaradamente e lhe sorria, ainda mais depois que foram apresentados. E pasmem, ao apertarem as mãos, ainda era possível sentir a corrente de energia passando entre eles. E nunca haviam se visto uma única vez em suas vidas antes daquele momento!!! Isso era o mais louco.


Ele se prontificou a ficar a noite toda ali. Ao que parece, ele só ficaria por um tempo, mas depois do ocorrido, tinha certeza de que ele estava ali pra ficar mais tempo perto dela. Ambos eram comprometidos, e tementes a Deus, o que possivelmente os impediu de dar vazão aquela atração elétrica entre eles. O pai dela percebeu e logo, como um bom protetor, se colocou entre os dois nos primeiros minutos após o corrido.


Em determinado momento, quando os dois estavam tomando café na cantina do hospital, ela lhe contou do absurdo do seu pai estar com ciúmes dele e não querer que ela ficasse nenhum momento sozinha com ele. No fundo, apesar de saber que de maneira muito estranha, eles se sentiam atraídos um pelo outro, não de uma forma vulgar, era mais como se eles estivessem ligados, como se reconhecessem um ao outro, ambos ainda não tinham tocado nesse assunto. Então, de certa forma, ela esperava que ele rebatesse aquela preocupação do seu pai e rissem juntos, dele.


Ao invés disso, ele ficou em silêncio, a olhou nos olhos e disse que o pai dela tinha razão, que seu pai não estava enganado. Realmente, ele estava atraído por ela, e que se ela fosse solteira e ele também, ele investiria nela, em conquistá-la, porque sabia que valeria a pena.
Ela o olhou e sorriu sem graça, disse que não sabia o que dizer. Ele falou que tudo estava bem, ambos sabiam que o que sentiram foi natural e espontâneo, que se fosse em outra situação, em outro momento, ele ficaria feliz em tê-la. Haviam passado três fins de tarde e noite, juntos, naquela enfermaria com seus respectivos doentes; Ele a viu dormindo naquele lugar, a viu acordar no dia seguinte e sorrir um pra o outro e mesmo assim, estava ali dizendo que se fosse possível, iria querer conquistá-la!! E ela o viu também, seu sorriso, suas gentilezas ao amigo, seus cuidados e sua presença. Incrível, ele nem fazia barulho ao chegar, e ela sabia que ele estava ali. Sua presença era antes sentida, depois, vista.


Aquele era o último café da manhã que tomariam naquela cantina do hospital. Seria a última vez que se veriam, e eles se despediram. E o momento de maior carinho e demonstração de respeito e bem querer, foi que se olharam e mesmo sabendo no olhar o quanto queriam se abraçar, também sabiam que esse simples gesto poderia lhes trazer um grande problema. Ela mesma não saberia do que seria capaz de fazer se ele a abraçasse e quisesse beijá-la. Não, lá dentro do seu coração ela sabia, ela o beijaria de volta. E ele estava também no mesmo dilema. 


Mas o que havia ocorrido entre eles foi além de emoções, foi algo espiritual, que gerou uma atitude baseada no que é correto e digno, e o carinho e respeito que um havia desenvolvido pelo outro, fez com que ambos entendessem, mesmo sem palavras, que o melhor era se despedir sem se tocarem. Essa foi a maior prova de que o que sentiram naquela tarde foi real e não mera atração física. Foi algo que embora não saiba explicar, não lhes fez mal e nem os trouxe culpa, ao contrário, lhes mostrou que podem confiar e se orgulhar do caráter um do outro. Saíram dali renovados e felizes consigo mesmos.


Depois disso, nunca mais se viram. Embora saibam um do outro...nem sempre as coisas são no tempo e do modo que queremos. E mesmo assim, fica tudo bem.








  

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